É a primeira vez que o país vizinho é superado pelos
alemães nas vendas para o Brasil nesse período. No início deste século, ele
também já havia sido batido pela China, que, atualmente, é o país que mais
exporta para o mercado brasileiro, à frente dos EUA.
A vantagem da maior economia europeia é de poucos
milhões de dólares (ambos venderam cerca de US$ 5,8 bilhões até maio), mas há
também um significado simbólico na perda de espaço do parceiro de Mercosul.
Uma das dificuldades das vendas argentinas é que, diferentemente
das alemãs (que são bastante diversificadas), elas estão muito concentradas em
poucos itens.
Por isso, uma queda nas exportações de algum deles já
tem efeito expressivo no comércio entre os dois países. É o que ocorre agora
com duas áreas: veículos (e autopeças) e trigo. Para a economista Marcela
Cristini, da consultoria Fiel, essa concentração em veículos e autopeças --que
é um setor administrado-- é "perigosa".
"A instabilidade de câmbio da Argentina [há
restrições para comprar dólares, o que dificulta o comércio exterior] complicou
a situação."
Para Cristini, porém, o Mercosul segue sendo "um
bom negócio" no longo prazo.
Os carros dominam as transações entre os dos países,
liderados pelos veículos a diesel, que representaram 15% das compras
brasileiras da nação vizinha até abril.
Os automóveis de maior potência (6,93% do total) e os
de menor potência (4,94%) vêm a seguir nas importações brasileiras da
Argentina.
TRIGO
Em quarto lugar nas compras brasileiras do país
vizinho está o trigo, justamente o produto que teve a maior queda, com declínio
de 67% de janeiro a abril ante igual período de 2013.
A Argentina é um produtor tradicional de trigo, mas
tem exportado cada vez menos ao Brasil. Não foi só uma diminuição das vendas
para fora, mas o tamanho da colheita vem diminuindo há cinco anos, diz o
economista Ramiro Costa, da Argentrigo, uma associação de produtores.
Ele afirma que, historicamente, o país produzia cerca
de 15 milhões de toneladas, mas que, nos últimos anos, caiu para cerca de 8
milhões de toneladas.
Um dos motivos para essa queda é a política de
retenção do governo, que, para que o preço interno não suba, obriga o
exportador de trigo a pagar impostos altos.
Com isso, nos últimos anos, muitos produtores optaram
por trocar o tipo de produto e começaram a plantar soja, que é livre de taxas.
Um executivo de uma produtora de trigo, que pede para
não ser identificado, afirma que espera que esse declínio se reverta nos
próximos anos e que o tamanho da produção volte aos níveis históricos --e,
então, voltar a fornecer toda a necessidade do mercado brasileiro.
Folha de São Paulo