sexta-feira, 6 de junho de 2014

As vendas da Argentina para o Brasil caíram 19% nos primeiros cinco meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, levando o país vizinho a ser desbancado pela Alemanha como o terceiro mercado que mais vende para o Brasil.

É a primeira vez que o país vizinho é superado pelos alemães nas vendas para o Brasil nesse período. No início deste século, ele também já havia sido batido pela China, que, atualmente, é o país que mais exporta para o mercado brasileiro, à frente dos EUA.

A vantagem da maior economia europeia é de poucos milhões de dólares (ambos venderam cerca de US$ 5,8 bilhões até maio), mas há também um significado simbólico na perda de espaço do parceiro de Mercosul.

Uma das dificuldades das vendas argentinas é que, diferentemente das alemãs (que são bastante diversificadas), elas estão muito concentradas em poucos itens.

Por isso, uma queda nas exportações de algum deles já tem efeito expressivo no comércio entre os dois países. É o que ocorre agora com duas áreas: veículos (e autopeças) e trigo. Para a economista Marcela Cristini, da consultoria Fiel, essa concentração em veículos e autopeças --que é um setor administrado-- é "perigosa".

"A instabilidade de câmbio da Argentina [há restrições para comprar dólares, o que dificulta o comércio exterior] complicou a situação."

Para Cristini, porém, o Mercosul segue sendo "um bom negócio" no longo prazo.

Os carros dominam as transações entre os dos países, liderados pelos veículos a diesel, que representaram 15% das compras brasileiras da nação vizinha até abril.

Os automóveis de maior potência (6,93% do total) e os de menor potência (4,94%) vêm a seguir nas importações brasileiras da Argentina.

 

TRIGO

Em quarto lugar nas compras brasileiras do país vizinho está o trigo, justamente o produto que teve a maior queda, com declínio de 67% de janeiro a abril ante igual período de 2013.

A Argentina é um produtor tradicional de trigo, mas tem exportado cada vez menos ao Brasil. Não foi só uma diminuição das vendas para fora, mas o tamanho da colheita vem diminuindo há cinco anos, diz o economista Ramiro Costa, da Argentrigo, uma associação de produtores.

Ele afirma que, historicamente, o país produzia cerca de 15 milhões de toneladas, mas que, nos últimos anos, caiu para cerca de 8 milhões de toneladas.

Um dos motivos para essa queda é a política de retenção do governo, que, para que o preço interno não suba, obriga o exportador de trigo a pagar impostos altos.

Com isso, nos últimos anos, muitos produtores optaram por trocar o tipo de produto e começaram a plantar soja, que é livre de taxas.

Um executivo de uma produtora de trigo, que pede para não ser identificado, afirma que espera que esse declínio se reverta nos próximos anos e que o tamanho da produção volte aos níveis históricos --e, então, voltar a fornecer toda a necessidade do mercado brasileiro.
Folha de São Paulo